Grafologia – O que é?

Escrever é materializar – mediante uma sequência de traços – pensamentos, sentimentos, atitudes, conflitos, lembranças, sucessos, fracassos, objetivos, ou seja, escrever é projetar os conteúdos conscientes e inconscientes sobre a folha de papel que, simbolicamente, representa o espaço vital do indivíduo.

Se a escrita é a expressão visível das ideias, dos pensamentos, infere-se que implica também a manifestação do EU, o que por sua vez faz supor a consciência de si, a maneira pela qual o sujeito se vê, sua imagem corporal. Esta imagem é a percepção subjetiva que o sujeito vai constituindo a partir das inscrições feitas pelo OUTRO e sendo estruturado de acordo com as experiências vivenciadas desde cedo. São estas “inscrições” expressas na escrita que serão analisadas e interpretadas grafologicamente, obtendo-se, portanto, o perfil da personalidade do autor como um todo.

Entendendo a escrita

Por quê a sua escrita é grande ou pequena, inclinada para a direita, para a esquerda ou vertical, rápida ou lenta, estreita ou ampla?

A resposta pode ser dada a partir de vários saberes. Vamos iniciar com a Neurociência.

Neurociência, devido à ideia fundamental de que todos os comportamentos nascem dos processos neurológicos da visão, audição, olfato, paladar, tato e sensação. O mundo é percebido através dos cinco sentidos, ou seja, a informação é percebida para depois ser utilizada na prática, como, por exemplo, para se manifestar na escrita. A Neurologia inclui não apenas os processos mentais invisíveis, mas também as reações fisiológicas, isto porque corpo e mente formam uma unidade inseparável.

A aprendizagem da escrita manual envolve habilidades cognitivas, linguísticas e motoras que exigem da criança o uso dos componentes sensório-motores e perceptivos, ou seja, a capacidade de decodificação das palavras e a ação motora para a execução da escrita. Portanto, o processo de aquisição da escrita envolve diversas regiões cerebrais, tais como na região occipital, o córtex visual primário, responsável pelo processamento dos símbolos gráficos, e as áreas do lobo parietal que são responsáveis pelas questões visuo-espaciais da grafia. Tão logo processadas, essas informações são reconhecidas e decodificadas na área de Wernicke, responsável pela compreensão da linguagem. Para a expressão da linguagem escrita é necessária a ativação do córtex motor primário e da área de Broca.

Mas como acontece o movimento do ato de escrever?

Na região anterior do cérebro ocorrem o planejamento, a organização e a execução do movimento. Primeiramente você tem a intenção do movimento de escrever, isto é, você se prepara, com a caneta na mão para começar a escrever. Essa intenção passa por um planejamento elaborado no córtex pré-frontal. Essa informação passa para a área pré-motora, que é responsável pela organização da sequência motora. Em seguida, esta é projetada na área motora primária, que, por sua vez, enviará os impulsos, via medula, para a musculatura, a fim de executar o movimento planejado.

A escrita segundo a Linguística e a Psicanálise

Linguística, pois a linguagem e outros sistemas de comunicação não verbal são utilizados para ordenar pensamentos e comportamentos, utilizando-se também na comunicação interpessoal, incluídos aí imagens, sons, sensações, gostos, cheiros, palavras, diálogos externo e interno. Para Saussure (1857-1913), linguista suíço e fundador da linguística moderna, a unidade linguística é o signo, que designa frequentemente a palavra, composta por duas partes: significado e significante. O significado é o conceito, a noção da coisa, já o significante é o som, a representação que nos é dada pelos nossos sentidos. Segundo Lacan (1901-1981), psicanalista francês, o significado, o sentido propriamente dito, seria o efeito de significantes, pois para este autor, como estruturalista, a linguagem é uma estrutura, determinada pelos seus elementos em relação – estrutural – uns com os outros. Daí provém a máxima de Lacan, em que afirma que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Portanto, o significado, o sentido, seria o efeito do deslizamento de significantes no inconsciente, ou seja, é na cadeia do significante que o sentido insiste.

Sigmund Freud (1856-1939), fundador da psicanálise

Psicanálise, pois ela permite que se decifre os traços, as marcas psíquicas, a partir da escrita propriamente dita, já que ela é a manifestação dos conteúdos conscientes e inconscientes. Ou como se diz na Grafologia, “O consciente escreve, o inconsciente dita”.

Para Freud (1856-1939), neurologista austríaco e fundador da psicanálise, o sonho, o sintoma, os lapsos e os atos falhos são formações psíquicas equivalentes, ou seja, de igual valor, formações estas que são os registros da constituição do inconsciente. A constituição do sujeito é concomitante à constituição do significante.

No Seminário IX, A identificação (1961), Lacan propõe que a constituição do significante ocorre em três tempos: inicialmente há a inscrição de um traço, primeira marca recebida pelo sujeito; seguida por seu apagamento ou rasura (que corresponderia ao que Freud propõe como recalque, permanecendo inconsciente) e, por fim, um terceiro momento em que o sujeito pode se dizer a partir da interpretação que faz das marcas que lhe foram inscritas.

Jacques Lacan (1901-1981), psicanalista francês

Lacan diferencia o signo do significante da seguinte forma: quando Robinson Crusoé vê uma pegada de um passo, que não é a sua, essa marca no chão para Robinson Crusoé tem valor de signo (que seria a pegada, o vestígio do pé no solo), pois representa para ele alguma coisa com valor de símbolo, conferindo-lhe assim um significante (que seria: Não estou só, há mais alguém aqui na ilha!).

Para Freud, o tecido do inconsciente é uma escrita. Essa escrita inconsciente, na metapsicologia psicanalítica, é o texto construído pelas inscrições dos traços mnêmicos. E é a partir dessas formulações que Lacan vai construir as noções de letra, significante e escrita em Psicanálise.

A emoção na linguagem

As palavras por si só não bastam para dar um significado ao que se quer dizer, já que a maneira como se fala muitas vezes pode mudar completamente o significado das palavras. Elas carregam de emoção a mensagem e podem constituir o tipo de linguagem não verbal. Da mesma forma que se percebe as emoções na linguagem falada, também na escrita a emotividade é detectada a partir de determinadas características do traçado gráfico.

A análise da escrita refere-se não somente à interpretação da maneira como se organizam ideias, ações e sentimentos a fim de se chegar ao perfil da pessoa, como também à estrutura da experiência humana subjetiva e como essas experiências são organizadas através dos sentidos.

A Grafologia permite novas maneiras de entender como a comunicação escrita, a linguagem não verbal afetam o cérebro humano. Dessa forma, ela se apresenta como uma oportunidade, não somente de comunicar-se melhor consigo mesmo e com os outros, mas também, de aprender como obter uma nova leitura das funções conscientes e inconscientes bem como tentar melhorar aspectos, conflitos, transtornos que vão emergindo durante o processo de análise grafológica, para uma melhor qualidade de vida.

A gênese da emoção e a escrita

O recém-nascido estabelece o contato com os outros através da emoção. A palavra emoção pode ser decomposta em: e(ex do latim = para fora), e moção, que significa movimento, portanto, emoção seria movimento para fora. A criança manifesta corporalmente o que está sentindo. Cada movimento, cada expressão corporal dessa criança, acaba por receber um significado, atribuído pelo outro, significado esse do qual ela se apropria. Ela chora porque está com fome, ou está com dor? Então, dependendo do significado que o outro lhe dá, este é registrado pela criança.

Mas, ao atribuir significados, começa a entrar no campo a razão, a função cognitiva. Isto é, primeiro ocorre o EU corporal, só depois, mais tarde, graças à aquisição da linguagem, a criança começa a se diferenciar dos outros, não aceita muitas coisas impostas pelo adulto, é a fase do negativismo, ela vai construindo o seu EU psíquico. Aqui volta o predomínio da função afetiva, e novamente a questão central do desenvolvimento é a construção do próprio EU. As emoções vão sendo subordinadas ao controle das funções psíquicas superiores, da razão. E, é a partir daí que a função do significante entra em cena para dar sentido ao signo, já que este é o que representa algo para alguém.

Dito de outra forma, se cada palavra remete a inúmeros sentidos, o sentido que você dá àquela determinada palavra vai depender do tipo de lembranças e sentimentos que aquele signo vai suscitar em você. Por exemplo, a palavra “cruz”, para uns remete à religiosidade, para outros remete ao símbolo matemático de adição, etc. A palavra “balança”, para aquele que está lutando contra alguns quilos a mais, este signo pode trazer sentimentos frustrantes, já para outros remete ao símbolo da justiça, e assim por diante.

E o que isso tudo tem a ver com a Grafologia?

Conforme dito acima, na escrita podemos ver materializado todo o conteúdo, consciente e inconsciente, de nossos pensamentos, emoções, ideias, lembranças, enfim, toda a nossa experiência e vivências armazenadas em diversas áreas cerebrais. E, de acordo com as memórias, boas ou más, traumatizantes ou prazerosas, a escrita será a manifestação de todo esse processo de inscrições psíquicas, traços esses que serão os traços característicos de sua personalidade, cuja leitura é feita mediante a análise grafológica de sua escrita.

Confira você mesmo, sem ser grafólogo, quando você está tenso, com certeza seus gestos, suas mímicas vão expressar essa tensão. Ou, se você está feliz, de bem com a vida, todos notarão esse seu bem-estar em todo seu semblante. O mesmo acontece com a escrita, por ser uma linguagem não verbal, todas essas características serão visíveis no seu traçado gráfico. Daí o postulado da Grafologia de que a escrita é comandada pelo cérebro, ou, como se diz em inglês handwriting is brainwriting.

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